Cúpula da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas é afastada

A cúpula da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), segunda maior delegacia especializada do Ceará, foi afastada da unidade. Investigações da Polícia Federal (PF), não detalhadas, apontam para suposta anuência dos três delegados da divisão em um esquema de extorsão a traficantes. Os crimes seriam praticados por 13 inspetores da unidade, com o apoio de outras nove pessoas de fora da Polícia Civil, classificados como informantes. Eles atuariam facilitando as extorsões.
Todos os 25 suspeitos foram conduzidos coercitivamente à sede da PF, no bairro Aeroporto, na manhã de ontem, durante a operação Vereda. Dois inspetores e quatro informantes acabaram presos, em flagrante, por porte ilegal de arma, de drogas e moeda falsa. Os nomes dos presos não foram informados. Somente os policiais permaneceram encarcerados. Na residência de um deles, foram apreendidos cerca de R$ 340 mil em espécie. Os demais suspeitos teriam pagado fiança e foram liberados.
Por determinação do juiz substituto da 12ª Vara Federal Criminal no Ceará, Danilo Dias Vasconcelos de Almeida, foram cumpridos ainda 27 mandados de busca e apreensão, na própria DCTD e nas residências dos suspeitos, na Capital e nas cidades de Caucaia e Eusébio. Dez policiais foram afastados das funções e seis foram removidos compulsoriamente para outras unidades.
O POVO teve acesso à decisão judicial que determinou as medidas. No documento sigiloso, de 47 laudas, o magistrado estabelece que a titular da divisão, Patrícia Bezerra, além do delegado Lucas Aragão, devem ser afastados. Já a delegada Ana Cláudia Nery será realocada para outra unidade, atuando em setores administrativos. As medidas têm duração de 90 dias. Os crimes investigados são: comercialização ilegal de anabolizantes, peculato, concussão, corrupção passiva, associação criminosa e tráfico de drogas.
Em entrevista coletiva, realizada ontem, o superintendente da PF no Ceará, Delano Cerqueira Bunn, afirmou que as investigações tiveram início há cerca de um ano, a partir da delação premiada de um traficante, que havia sido preso em flagrante, pela DCTD, em maio de 2015, por importar anabolizantes de Portugal, na Europa, e revender no Ceará. O tráfico internacional levou a competência do caso à PF. O acusado afirma que foi extorquido por um grupo de inspetores, por mais de uma vez. Algumas das ações estariam registradas em vídeo. As imagens foram capturadas pelas câmeras de segurança do condomínio onde ele mora. Responsável pelo inquérito, o delegado federal Gilmar Santos Lima afirma que interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça também foram utilizadas.
Segundo ele, o inquérito revelou que a prática de extorsão se estendia a outros traficantes flagrados pela DCTD. “Havia uma tratativa entre os envolvidos e os criminosos no sentido de livrar o flagrante, com o pagamento de valores para que não ocorresse prisão”, disse, sem precisar que crimes teriam sido cometidos, já que a negociação ocorreria por aplicativos de mensagem. A PF também investiga a morte de um homem, nos últimos dias, que estaria ligado ao esquema e foi citado na investigação.
Interinamente, a delegada Socorro Portela assumiu a DCTD. Ela terá o efetivo reforçado com policiais de outras unidades. Conforme o secretário da Segurança, André Costa, caberá a ela decidir sobre a manutenção dos demais agentes da DCTD.
Defesa
O advogado Leandro Vasques, que representa a defesa dos três delegados considerados suspeitos de envolvimento no esquema, argumenta que a investigação criminal da Polícia Federal é inconsistente e possui vários “equívocos de interpretação”. Ele recorre ao fato de que o grupo não foi citado pelo delator dos crimes e alega que as menções feitas aos delegados, quando do pedido de condução coercitiva, têm como base diálogos que se deram em outro contexto.
No documento ao qual O POVO teve acesso, ao determinar as conduções coercitivas, o juiz Danilo Dias Vasconcelos de Almeida reconhece ser “bem verdade que não há, ainda, elementos precisos sobre os contornos dos ilícitos investigados, nem a respeito da delimitação da participação de cada um dos envolvidos. Também não está suficientemente claro se todos eles se beneficiaram de algum esquema ilícito no âmbito da Denarc — ou se alguns apenas se valeriam de instrumentos ilícitos de investigação policial, com desrespeito às garantias individuais previstas constitucionalmente”.
(O POVO)

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Cúpula da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas é afastada BLOG DO CARLOS DEHON Rating: 5 quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

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